Futebol Americano no Brasil: o caminho entre o amadorismo e o sonho

O esporte da bola oval conta com um crescimento exponencial no gosto do público brasileiro

O grandioso estádio do Atlanta Falcons, palco do Super Bowl LIII, em 2019. Foto: Divulgação/NFL.
O futebol americano é um dos esportes mais valiosos no mundo. A final da NFL (National Football League), o Super Bowl, é um dos eventos mais caros no planeta. Com grandes preparativos, comerciais especialmente feitos para este dia e shows grandiosos, o jogo decisivo é capaz de atrair, em média, a atenção de 140 milhões de pessoas somente nos Estados Unidos.

Grandes astros da música como Beyoncé, Lady Gaga, Coldplay, Red Hot Chilli Peppers e até mesmo o rei do pop, Michael Jackson, já se apresentaram no intervalo da partida. Além dos números que comprovam o sucesso, a popularidade e a quantidade de praticantes aumentou em vários países, incluindo no Brasil.

Por aqui, em território nacional, o interesse, a quantidade de espectadores e o número de jogadores cresceram, consideravelmente, nos últimos anos. Hoje, contamos com uma liga nacional unificada que agrega times de todas as regiões, a BFA (Brasil Futebol Americano). Porém, diferente do profissionalismo norte-americano, a prática no Brasil conta com desafios, dificuldades e obstáculos iguais a qualquer outro esporte amador, precisando da paixão dos seus atletas para realizarem os próprios sonhos.

Futebol Americano no Brasil

Muitas das equipes tiveram sua origem na praia, no chamado Beach Football. Somente em 2009 foi criado o Toeio Touchdown, que é considerado o primeiro campeonato brasileiro com equipamentos completos (full pad). Seguiram diversos outros, como a Liga Brasileira e a Superliga. Atualmente, a organizada é responsabilidade da BFA (Brasil Futebol Americano), que é a liga dos clubes, cuja competição recebe o mesmo nome. O toeio possui a chancela da CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano) para a sua existência. Diversos atletas que jogam na BFA jogaram nas antigas ligas, como é o caso do Victor Silva, 22 anos, que atua pelo Vasco da Gama Almirantes.

“A maioria dos campeonatos que não vingaram foram por falta de profissionalismo e politicagem. O futebol americano sempre teve ligas divididas. Vivi a época do Toeio Touchdown paralelo à Liga da Federação. Hoje em dia a BFA conseguiu unificar os melhores times do país.”, declara Victor.

Jogo de Futebol Americano realizado em Minas Gerais, no estágio Independência | Foto: Globo Esporte
Assim como Victor, vários praticantes, treinadores e presidentes de federações, acompanharam essa evolução ao longo dos anos. Bruno Barandas é outro exemplo. Ex-atleta com 25 anos por conta de lesões, Bruno hoje é head coach (técnico principal) no Vasco.

“Joguei como quarterback na praia, pelo Rio de Janeiro Minotauros e Ipanema Tatuís; e na grama pelo Botafogo Futebol Americano. Em 2015, comecei como técnico de quarterbacks do Vasco. Também já fui coordenador ofensivo e coach na Georgetown University. Após meu retoo no ano passado, voltei ao Vasco, mas como head coach. Hoje o fato de termos um campeonato unificado, e que agora também terá uma divisão de acesso, permite ao público um enfoque maior no cenário do esporte no Brasil. Ao meu ver não foram os campeonatos que falharam por si só, a existência de múltiplos ao mesmo tempo por si só foi fator fundamental para a extinção dos mesmos. Obviamente os passaram por grandes controvérsias, mas no fim, foi a busca por parte dos times de um campeonato único e de maior qualidade que deu fim aos anteriores.”, disse Bruno.

O amadorismo e os seus desafios

O desejo e o sonho de trabalhar com aquilo que se gosta passa por diversos obstáculos. O esporte amador impõe um maior número de dificuldades nesse caminho. São poucos os times que podem remunerar, oferecer moradia e bolsas universitárias para os seus atletas. Os treinadores esbarram na falta de material e na falta de investimento para exercerem os seus trabalhos.

“No Vasco da Gama Almirantes, os jogadores pagam pelos equipamentos e locomoção para treinos. Uniformes, viagens para jogos como visitante, campo de treino e campo de jogo são foecidos pelo time.”, contou Victor.

Além dos empecilhos no campo, existem os extra campo, pois os jogadores possuem uma vida dupla, se dividindo entre os seus trabalhos e os treinos da equipe.

“Diversas vezes um atleta se vê obrigado a priorizar seu emprego ao esporte por questão de sobrevivência. Além disso, com menos estrutura, os jogadores tem maiores chances de lesão e menores possibilidades de aumento de performance. Um campo esburacado pode gerar uma lesão grave, a ausência de equipamentos adequados também, assim como a ausência de um profissional de educação física e outras áreas da saúde, etc.”, acrescentou Victor.

Muitos clube da bola oval se apoiam em escudos famosos do nosso tradicional futebol para crescer. Uma das formas de capitalizar de maneira fácil seria com venda de camisas. Nesse ponto, a imagem do time de futebol americano atrelada ao clube de futebol ajuda, pois cria uma conexão e uma identificação do torcedor da bola redonda.

Outro ponto é a falta de grandes patrocínios. O investidor deseja ter o seu retoo aplicado, e como o futebol americano não é popularmente conhecido no país, esse investimento não vem com facilidade. Esses fatores, entre outros, dificultam a transição do esporte do amador para o profissional nos dias de hoje.

“Acho que uma transição total não é algo que podemos esperar de imediato, mas com certeza vai acontecer. Tem muita gente boa e competente batalhando junta pelo desenvolvimento de esporte no país. É claro que não vai ser de um dia pro outro, a profissionalização requer muita organização, trabalho duro, investimento e, acima de tudo, engajamento do público. A BFA vem fazendo um grande trabalho na direção de profissionalizar o esporte. É uma gestão profissional e inteligente, que vem fazendo o esporte crescer tanto em popularidade, quanto em credibilidade.”, elogiou Bruno.

O sonho do futuro

Um dos caminhos para o crescimento do esporte é a popularização e isso vem aumentando. A infraestrutura nos estádios ainda atrapalha, mas, nos últimos anos, a BFA alcançou média de público no mesmo patamar de grandes ligas profissionais já estabelecidas no Brasil, como a NBB e a Superliga de Vôlei.

“O futebol americano já é o esporte que mais cresce no Brasil, o crescimento no número de praticantes é exponencial ano a ano, e somos o maior país consumidor da NFL fora da América do Norte, então, estamos sim crescendo, e ainda há muito espaço para crescer, apenas pensando na conversão de consumidores da NFL para o esporte no Brasil.”, afirmou Bruno.


Equipe do Vasco entrando em campo pela BFA, com o seu técnico Bruno Barandas no canto direito da foto | Foto: Divulgação/Vasco da Gama Almirantes


Na televisão esses dados são mais expressivos. De acordo com a Global Web Index, o mercado brasileiro (19.7 milhões) é o terceiro maior consumidor de NFL no mundo inteiro, ficando atrás somente dos Estados Unidos (117 milhões) e do México (23.3 milhões).

Não há dúvidas de que o futuro é promissor. A dedicação e o amor dos atletas e dirigentes são grandes, e esse é o principal fator para ter a esperança que o futebol americano vai cair nas mãos do povo brasileiro.