Estresse tóxico na infância: um mal cada vez mais comum

Pesquisa relata que quase 60% das crianças demonstram um alto nível de estresse

Durante a infância estamos sujeitos a conviver com três tipos de estresses diferentes: o primeiro diz respeito a um estresse positivo, leve, momentâneo e que está sob o controle da própria criança; o segundo apresenta um grau maior e mais duradouro, podendo afetar o sistema neuroendócrino das crianças - responsável por produzir e filtrar os hormônios do corpo, ele é tolerável apenas com o auxílio dos pais; já o terceiro é o chamado estresse tóxico, que pode acarretar em sérios problemas para saúde da criança, bem como para o bem-estar social.

De acordo com a pesquisa realizada pelo projeto Fique Bem, após o início da pandemia quase 60% das crianças passaram a apresentar um alto nível de estresse. Com o estresse tóxico na infância cada vez mais comum, a saúde mental infantil tem se tornado um problema social. Segundo a Dr. Patrícia Consorte, pediatra especialista em nutrição materno-infantil, o estresse pode surgir de situações difíceis para as crianças:

O estresse tóxico é oriundo de situações extremamente difíceis enfrentadas quando a criança perde a capacidade de se autorregular. Com a alta liberação de cortisol, seu desenvolvimento neuro celular é severamente comprometido, fato que pode levar à inúmeros problemas de saúde orgânicos, como obesidade, diabetes e, até mesmo, psicológicos, como depressão e ansiedade", explica.

Diversos são os fatores que podem levar uma criança a esse nível de estresse descrito pela médica. Os casos mais comuns são os de violência doméstica, seja contra a própria criança ou quando ela presencia entre os pais e as multitarefas cotidianas designadas. Várias horas na escola, cursos extras, prática de esportes, entre outras atividades, podem deixar a criança sobrecarregada, prejudicando a saúde mental da mesma.

Além disso, a pandemia trouxe consigo uma necessidade de mudança na realidade da população global. As crianças foram tiradas das suas rotinas e da convivência com amigos e familiares para permanecerem durante dias isolados em casa, muitas vezes convivendo apenas com os pais, que estavam se adaptando à nova realidade e se encontravam sobrecarregados na tentativa de conciliar as atividades profissionais e domésticas. Esses fatores explicam o aumento de crianças altamente estressadas.

O quadro de estresse tóxico, quando identificado, pode ser revertido. Existe um tratamento específico para crianças que convivem com esse mal. A Dr. Patrícia Consorte aponta o caminho para superação do problema:

Normalmente precisamos de ajuda multidisciplinar, com psicólogo junto do pediatra, pois dependendo dos motivos, temos que readequar toda a rotina da família para acolher essa criança.

É importante ressaltar que uma geração de crianças habituadas ao estresse tóxico pode prejudicar a sociedade como um todo, tendo em vista que pode resultar no crescimento de distúrbios psiquiátricos nos futuros adultos. Consequentemente, isso acabaria afetando a capacidade de se tornarem membros ativos da sociedade, geraria outras doenças crônicas e, também, uma sobrecarga sobre o sistema público de saúde.